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RÁDIO MENSAGEIRA DA PAZ
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Sobre o Vício da Ira Por Santo Alfonso de Ligório
Primeiro Ponto:A ruína que a ira desenfreada traz para a alma
São Jerônimo diz que a ira é a porta pela qual todos os vícios entram na alma. “Omnium vi-tiorum janua est iracundia”. A ira precipita os homens em ressentimentos, blasfêmias, atos de in-justiça, detrações, escândalos e outras iniquidades, pois a paixão da ira escurece o entendimento e faz o homem agir como uma besta e um louco. “Caligavit ab indignatione oculus meus” – Jó 17:7. Meu olho perdeu a visão, por causa da indignação. Davi disse: “Meu olho está atribulado pela ira.” – Salmo 30:10. Por isso, segundo São Boaventura, um homem irritado é incapaz de dis-tinguir entre o que é justo e injusto. “Iratus non potest videre quod justum est, vel injustum”. Em uma palavra, São Jerônimo diz que a ira priva o homem da prudência, da razão e do entendimen-to. “Ab omni consilio deturpat, ut donee irascitur, insanire credatur”. Assim, São Tiago diz: “Por-que a ira do homem não produz a justiça de Deus.” – Tiago 1:20. Os atos de um homem sob a influência da ira não podem estar de acordo com a justiça divina e, consequentemente, não po-dem ser irrepreensíveis.
Um homem que não refreia o impulso da ira cai facilmente em ódio contra a pessoa que tenha sido ocasião de sua paixão. Segundo Santo Agostinho, o ódio nada mais é que uma raiva perseverante. “Odium est ira diuturno tempore perseverans”. Por isso, Santo Tomás diz que “a ira é súbita, mas o ódio é duradouro”. Parece, então, que naquele em quem persevera a ira, o ódio também reina. Mas alguns dirão: Eu sou o chefe da casa, devo corrigir os meus filhos e servos, e, quando necessário, tenho que levantar a voz contra os distúrbios que testemunho. Digo como resposta: Uma coisa é ter ira contra um irmão, outra coisa é ficar descontente com os pecados de um irmão. Ter ira contra o pecado não é ira, mas Zelo e, portanto, não somente é permitido, mas às vezes é um dever. Mas a nossa ira deve ser acompanhada pela Prudência, e deve ser dirigida contra o pecado, não contra o pecador, pois se a pessoa que estamos corrigindo perceber que falamos por meio da paixão e do ódio contra ele, a correção será inútil e até mes-mo perversa. Portanto, ter ira contra o pecado de um irmão é certamente legítimo. Santo Agosti-nho diz: “Não está irado contra um irmão, aquele que está irado contra o pecado de um irmão”. Assim, como disse Davi, podemos estar irados sem pecar. “Irai-vos e não queirais pecar.” – Sal-mo 4:5. Mas, estar irado contra um irmão por causa do pecado que ele cometeu não é permitido, porque, de acordo com Santo Agostinho, não estamos autorizados a odiar os outros por causa de seus vícios. “Nec propter vitia (licet) homines odisse”.
O ódio traz consigo um desejo de vingança, pois, segundo Santo Tomás, a ira, quando to-talmente voluntária, é acompanhada por um desejo de vingança. “Ira est appetitus vindictoe”. Mas talvez você diga: Se eu me ressinto de tal injúria, Deus terá piedade de mim, porque eu tenho motivos justos de ressentimento. Quem, pergunto eu, lhe disse que você tem motivos justos para buscar vingança? É você, cujo entendimento está obscurecido pelas paixões, quem diz isso. Já disse que a raiva obscurece a mente e tira a razão e o entendimento.
Enquanto durar a paixão da ira, você considerará a conduta de seu próximo como muito in-justa e intolerável, mas, quando a sua ira tiver passado, você verá que o ato dele não foi tão ruim como pareceu antes. Mas, apesar de a injúria ser grave, ou mesmo muito grave, Deus não terá compaixão de você, se você procurar vingança. Não, Ele diz: A vingança pelos pecados não per-tence a você, mas a Mim, e quando chegar o tempo, vou castigá-los como eles merecem. “A Mim pertence a vingança e eu lhes darei a paga a seu tempo.” – Deuteronômio 32:35. Se você se res-sente de uma injúria feita pelo próximo, Deus justamente infligirá vingança sobre você por todas as injúrias que você tiver feito a ele, e em particular por se vingar de um irmão, a quem Ele orde-na que se perdoe. “Aquele que quer vingar-se encontrará a vingança do Senhor…. Um homem conserva a sua ira contra outro homem, e pede a Deus remédio?…. Aquele que, sendo apenas carne, conserva rancor e pede propiciação a Deus?, quem lhe alcançará perdão por seus peca-dos?” – Eclesiástico 28:1,3,5. O homem, um verme feito de carne, conserva rancor e se vinga de um irmão, e depois se atreve a pedir misericórdia de Deus? E quem, acrescenta o Sagrado Escri-tor, pode obter o perdão para as culpas de tão ousado pecador? Diz Santo Agostinho: “Qua fronte indulgentiam peccatorem obtinere poterit, qui praecipienti dare veniam non acquiescit”. Como aquele que não obedece à ordem de Deus de perdoar o seu próximo pode esperar obter de Deus o perdão dos seus próprios pecados?
Imploremos ao Senhor que nos preserve de ceder a qualquer paixão forte e particularmen-te à ira. “Não me entregueis a uma alma sem vergonha e sem recato.” – Eclesiástico 23:6. Porque aquele que se submete a tal paixão está exposto ao grande perigo de cair em um pecado grave contra Deus ou contra o próximo. Quantos, em consequência da não conterem a ira, cometeram blasfêmias horríveis contra Deus ou seus santos. Mas, ao mesmo tempo em que estamos em uma onda de indignação, Deus está armado com flagelos. O Senhor disse um dia ao profeta Je-remias: “Que vês tu, Jeremias? Eu respondi: Vejo uma vara vigilante.” – Jeremias 1:11. Senhor, vejo uma vara vigilante a infligir punição. O Senhor lhe perguntou de novo: “Que vês tu? Respon-di: Vejo uma panela a ferver.” – Jeremias 1:13. A panela a ferver é a figura de um homem infla-mado de ira e ameaçado com uma vara, ou seja, com a vingança de Deus. Percebam, então, a ruína que a ira desenfreada traz ao homem. Primeiro, ela o priva da graça de Deus, e depois da vida corporal. “A inveja e a ira abreviam os dias.” – Eclesiástico 30:26. Jó diz: “Verdadeiramente, a ira mata o insensato e a inveja mata o pequeno.” – Jó 5:2. Em todos os dias da sua vida, pessoas viciadas em irar-se são infelizes, porque estão sempre em uma tempestade. Mas passemos ao segundo ponto, no qual eu tenho muitas coisas a dizer que irão ajudá-lo a superar este vício.
Segundo Ponto: Como devemos aplacar a ira nas ocasiões de provocação
Em primeiro lugar, é necessário saber que não é possível para a fraqueza humana, em meio a tantas ocasiões, estar totalmente livre de todo o movimento de ira. Ninguém, como diz Sêneca, pode estar totalmente isento dessa paixão. “Iracundia nullum genus hominum excipit”. Todos os nossos esforços devem estar direcionados para a moderação dos sentimentos de ira que brotam na alma. Como eles devem ser moderados? Pela mansidão. Essa é chamada a virtu-de do Cordeiro – isto é, a amada virtude de Jesus Cristo. Porque, como um cordeiro sem ira e nem mesmo queixa, Ele suportou as dores de Sua Paixão e Crucificação. “Tal como cordeiro, ele foi levado para o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca.” – Isaías 53:7. Por isso Ele nos ensinou a aprender com Sua mansidão e humildade de cora-ção. “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração.” – Mateus 11:29.
Oh! quão agradáveis os mansos são aos olhos de Deus, aqueles que se submetem pacifi-camente a todas as cruzes, infortúnios, perseguições e injúrias! Aos humildes é prometido o Rei-no dos Céus. “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” – Mateus 5:4. Eles são chamados filhos de Deus. “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.” – Mateus 5:9. Alguns se gloriam de sua mansidão, mas sem qualquer fundamento, pois eles são mansos apenas com aqueles que os elogiam e lhes favorecem, mas, para os que ferem ou censuram, eles se enchem de fúria e vingança. A virtude de mansidão consiste em ser manso e pacífico com aqueles que nos odeiam e maltratam. “Com os que odiavam a paz eu era pacífi-co.” – Salmo 119:7.
Precisamos, como diz São Paulo, revestir-nos de entranhada misericórdia para com todos os homens, e suportar-nos uns aos outros. “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem.” – Colos-senses 3:12-13. Você quer que outros suportem seus defeitos e perdoem suas falhas, então você deve agir da mesma maneira em relação aos outros. Assim, sempre que você receber um insulto de uma pessoa enfurecida contra você, lembre-se que “Uma resposta branda aplaca o furor, uma palavra dura excita a cólera.” Provérbios 15:1. Um monge certa vez passou por um campo de mi-lho, o proprietário do campo não gostou e falou-lhe em linguagem muito ofensiva e injuriosa. O monge humildemente respondeu: Irmão, você está certo, eu agi de maneira errada, me perdo-e. Com esta resposta o lavrador ficou tão acalmado, que instantaneamente perdeu toda a raiva, e até quis seguir o monge e entrar na vida religiosa. O orgulhoso faz uso das humilhações que re-cebem para aumentar o seu orgulho, mas os humildes e os mansos transformam o desprezos e insultos oferecidos a eles em ocasião de avançar na humildade. São Bernardo diz: “É humilde aquele que converte a humilhação em humildade”.
São João Crisóstomo diz que “um homem de mansidão é útil para si e para os outros”. Os mansos são úteis para si mesmos, porque, de acordo com o Pe. Alvarez, o tempo de humilhação e desprezo é para eles o tempo de mérito. Assim, Jesus Cristo chama os seus discípulos de feli-zes por que serão injuriados e perseguidos. “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem e perseguirem.” – Mateus 5:11. Por isso, os santos sempre desejaram ser desprezados, como Je-sus Cristo foi desprezado. Os mansos são úteis para os outros, porque, como o mesmo São João Crisóstomo diz, não há nada melhor calculado para atrair outros para Deus, do que ver um cristão manso e alegre quando recebe um ferimento ou um insulto. “Nihil ita conciliat Domino familiares ut quod illum vident mansuetudine jucundum”. A razão disso é que a virtude se torna conhecida ao ser testada e, como o ouro é provado no fogo, a mansidão dos homens é provada na humilha-ção. “Porque o ouro é provado no fogo e as pessoas escolhidas no forno da humilhação.” – Ecle-siástico 2:5. “O meu nardo”, diz a esposa no Cântico, “exala o seu perfume.” – Cânticos 1:11. O nardo é uma planta aromática, mas só difunde seus odores quando é rasgada ou ferida. Nesta passagem, o escritor inspirado nos dá a entender, que um homem não pode ser chamado de manso, a menos que seja conhecido por exalar o perfume de sua mansidão suportando injúrias e insultos em paz e sem raiva. Deus quer que sejamos mansos, até em relação a nós mesmos. Quando uma pessoa comete uma falha, Deus certamente deseja que ela se humilhe, se arrepen-da de seus pecados, com o propósito de nunca cair neles novamente, mas Ele não quer que ela fique indignada consigo mesma, dando lugar a problemas e agitações na consciência, pois, quando a alma está agitada, o homem é incapaz de fazer o bem. “O meu coração está conturba-do, a minha força me desamparou.” – Salmo 37:11.
Assim, quando recebemos um insulto, devemos fazer violência a nós mesmos, a fim de a-placar a ira. Respondamos com mansidão, como recomendado acima, ou fiquemos em silêncio, e assim venceremos, como diz Santo Isidoro. “Quamvis quis irritet, tu dissimula, quia tacendo vin-ces”. Mas, se você responder com a paixão, você fará mal a si e aos outros. Seria ainda pior dar uma resposta com ira a uma pessoa que o corrige. Pois São Bernardo diz: “Medicanti irascitur qui non irascitur sagittanti”. Alguns não ficam com raiva, mas deveriam estar indignados com aqueles que ferem suas almas pela lisonja, e ficam cheios de indignação contra a pessoa que o censura para curar as suas irregularidades. Contra o homem que detesta a correção, a sentença de perdi-ção, de acordo com o Homem Sábio, já foi pronunciada. “Porque odiaram as instruções e não abraçaram o temor do Senhor, nem se submeteram ao meu conselho, mas desprezaram todas as minhas repreensões, comerão, pois, o fruto do seu próprio proceder e fartar-se-ão dos seus con-selhos. A indocilidade dos fátuos os matará e a (falsa) prosperidade dos insensatos os destruirá.” – Provérbios 1:29-32. Os insensatos contam como prosperidade estarem livres de correção, ou desprezar as advertências que recebem, mas tal prosperidade é a causa de sua ruína. Quando você se deparar com uma ocasião de ira, você deve, em primeiro lugar, estar em guarda para não permitir que a ira entre em seu coração. “Não seja fácil em te irares.” – Eclesiastes 7:10. Algumas pessoas mudam de cor, e caem em uma paixão a cada contradição, e quando a raiva foi admiti-da, Deus sabe a que ela deve levá-los. Por isso, é necessário prever essas ocasiões em nossas meditações e orações, pois, a menos que estejamos preparados para elas, será tão difícil aplacar a ira quanto pôr um freio em um cavalo enquanto ele está fugindo.
Sempre que tivermos a infelicidade de permitir que a ira entre na alma, sejamos cuidado-sos para não permitir que ela permaneça. Jesus Cristo diz a todos para se lembrarem de que se um irmão estiver ofendido com você, não se deve oferecer os dons no altar, sem primeiro se re-conciliar com o próximo. “Vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, depois vem fazer a tua oferta.” – Mateus 5:24. E aquele que tenha recebido qualquer ofensa, deve se esforçar para extirpar do seu coração não só toda a raiva, mas também todo sentimento de amargura para com as pesso-as que o ofenderam. “Toda a amargura, animosidade, cólera, clamor, maledicência, com toda espécie de malícia seja banida de entre vós.” – Efésios 4:31. Enquanto a ira persistir, siga o con-selho de Sêneca – “Quando você estiver com raiva, não faça nada, não diga nada que possa ser instigado pela raiva”. Como Davi, fique em silêncio, e não fale quando você sentir que está per-turbado. “Fiquei perturbado e não falei.” – Salmo 76:5. Quantos, quando estão inflamados pela ira, dizem e fazem aquilo de que eles mais tarde, em seus momentos mais calmos, se arrependem e se desculpam dizendo que estavam transtornados pela paixão? Enquanto a ira persistir, devemos ficar em silêncio, e abster-nos de fazer ou resolver fazer qualquer coisa, pois, o que é feito no ca-lor da paixão será, de acordo com a máxima de São Tiago, injusto. ”Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.” – Tiago 1: 20. Também é necessário se abster completamente de con-sultar aqueles que poderiam fomentar a nossa indignação. Davi diz: “Ditoso o homem que não se deixou levar pelo conselho dos ímpios.” – Salmo 1:1. Para aquele a quem se pede conselho, o Eclesiástico diz: “Se assoprares a uma faísca, ela se inflamará, se cuspires sobre ela, se apaga-rá: e uma e outra coisa saem da boca.” – Eclesiástico 28:14. Quando uma pessoa está indignada por causa de alguma injúria que recebeu, você deve apagar esse fogo, exortando-o à paciência, mas, se você incentivar a vingança, você poderá acender uma grande chama. Que aquele que se sente de alguma forma inflamado pela raiva, ponha-se em guarda contra os falsos amigos, que, por uma palavra imprudente, podem ser a causa de sua perdição.
Sigamos o conselho do apóstolo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” – Romanos 12:21. Não te deixes vencer pelo mal: não se permita ser conquistado pelo pe-cado. Se, pela ira, você buscar vingança ou proferir blasfêmias, você será vencido pelo peca-do. Mas você dirá: eu tenho, naturalmente, um temperamento forte. Pela graça de Deus e fazen-do violência a si mesmo, você será capaz de vencer essa disposição natural. Não consinta com a ira, e você dominará o calor do seu temperamento. Mas você dirá: eu não posso suportar o trata-mento injusto. Em resposta eu lhe direi, em primeiro lugar, lembre-se que a ira obscurece a razão e nos impede de ver as coisas como elas são. “Caiu fogo de cima sobre eles, e não viram mais o sol.” – Salmo 57:9. Em segundo lugar, se você pagar o mal com o mal, o se inimigo terá uma vitó-ria sobre você. Davi disse: “Se paguei com mal aos que mo faziam, caia eu com razão debaixo dos meus inimigos, sem esperança.” – Salmo 7:5. Se eu pagar o mal com o mal, serei derrotado pelos meus inimigos. “Supere o mal com o bem”. Dê a todos os inimigos o bem em troca do mal. Jesus Cristo diz: “Fazei bem aos que vos odeiam.” – Mateus 5:44. Esta é a vingança dos santos e é chamada por São Paulino de vingança celestial. É por meio dessa vingança que você deve conquistar a vitória. E se algum desses, de quem o profeta diz: “O veneno de víbora está nos seus lábios.” – Salmo 139: 4, perguntar a você como pode se submeter a tal injúria, respon-da: “Não hei de beber o cálice que meu Pai me deu?” – João 18:11. E, em seguida, voltando-se a Deus, você dirá: “Emudeci e não abri a minha boca, porque Tu o fizeste.” – Salmo 38:10, pois é certo que cada cruz que recai sobre você, vem do Senhor. “Os bens e os males, a vida e a morte, a pobreza e a riqueza, tudo isto vem de Deus.” – Eclesiástico 11:14. Se alguém lhe tirar a sua propriedade, recupere-a se for possível, mas, se não for, diga com Jó: “O Senhor o deu, o Senhor o tirou.” – Jó 1:21. Certo filósofo, que perdeu alguns de seus bens em uma tempestade, disse: “Perdi os meus bens, mas não perderei a minha paz”. E você dirá: Perdi a minha propriedade, mas não vou perder minha alma.
Em suma, quando nos encontrarmos com cruzes, perseguições e injúrias, voltemo-nos pa-ra Deus, que nos ordena suportá-las com paciência, e assim sempre evitaremos a ira. “Lembra-te do temor de Deus, e não te ires contra o teu próximo.” – Eclesiástico 28:8. Demos uma olhada na vontade de Deus, que dispõe todas as coisas desta maneira para o nosso mérito, e assim a ira cessará. Demos uma olhada em Jesus crucificado, e não teremos coragem de reclamar. Santo Eleazar, ao ser perguntado por sua esposa, como suportava tantas injúrias, sem ceder à ira, res-pondeu: eu me viro para Jesus Cristo e assim preservo a minha paz. Finalmente, demos uma o-lhada em nossos pecados, para os quais merecemos muito mais desprezos e castigos, e nós calmamente nos submeteremos a todos os males. Santo Agostinho diz que, embora às vezes sejamos inocentes de um crime pelo qual somos perseguidos, nós somos, no entanto, culpados de outros pecados que merecem castigo maior do que aquele que estamos sofrendo. “Esto non habemus peccatum, quod objicitur; habemus tamen, quod digne in nobis flagelletur”.
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