Quam dabit homo commnitationem pro anima sua?
“Que dará o homem em troca da sua alma?”
(MT.16,26.)
“Que dará o homem em troca da sua alma?”
(MT.16,26.)
Coisa estranha! Ninguém quer passar por negligente nos negócios do mundo, e muito não tem pejo de descuidar no negócio da eternidade, o mais importante de todos. Muitos fazem até tudo para perderem a alma, e a maior parte dos cristãos vivem como se as verdades eternas fossem outras tantas fábulas. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e pensemos seriamente de que nada nos serviria ganharmos o mundo inteiro, se depois viéssemos a perder a nossa alma.
Perdida alma, está tudo perdido, e para sempre!
A salvação eterna é certamente o negócio que, sobre todos os outros, mais nos interessa, porque dele depende a nossa eterna felicidade ou desgraça. Todavia é deste negócio que os cristãos menos se ocupam.
Não se poupa nenhum cuidado, nem se perde nenhum momento, para chegar a tal dignidade, ganhar tal demanda, concluir tal negócio; que de conselhos então, que de providenciais! Não se come, não se dorme. Mas depois, que se faz para assegurar a salvação eterna? Como é que se vive? Não se faz nada, ou, para melhor dizer, faz-se tudo para a perder, e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, o céu e a eternidade não fossem verdades da Fé, mas sim fábulas inventadas pelos poetas.
Que mágoa não sentimos quando se perde uma demanda, uma colheita! Quantos cuidados para reparar o prejuízo! Quando se perde um cavalo, um cão, quantas diligências para os reaver! Perdemos a graça de Deus, e dormimos e gracejamos e rimos! – Coisa estranha! Cada um tem pejo de passar por negligente nos negócios do mundo; e são inúmeros os que não têm pejo de se descuidar do negócio da salvação, o mais importante de todos! Confessam que os Santos foram verdadeiros sábios, porque só trabalharam para se salvarem, e eles mesmos ocupam-se de todas as coisas do mundo com exceção da sua própria alma!
Mas vós, diz são Paulo, ao menos vós, meus irmãos, aplicai-vos ao grande negócio da vossa salvação eterna, que é o negócio que mais vos interessa:Rogamus vos, ut vestrum negotium agatis
. “Por quanto”, exclama Jesus Cristo, “de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? ou que dará o homem em troca de sua alma? ” Perdida a alma está tudo perdido, e perdido para sempre.
Persuadamo-nos de que a salvação eterna é para nós o negócio mais importante, por ser irreparável se não o realizarmos. Portanto, afim de o levarmos a feliz êxito, não receiemos trabalhos nem fadigas. “O reino eterno”, diz são Bernardo, “não se dá aos preguiçosos, mas aos que se houverem valorosamente no serviço de Jesus Cristo. ”
Oração:
Ah! meu Deus, graças Vos dou por me achar ainda aqui aos vossos pés não no inferno, tantas vezes por mim merecido. Mas de que me serviria a vida que me concedeis, se eu continuasse a viver privado da vossa graça? Nunca mais isto me suceda! Virei-Vos as costas e Vos perdi, ó meu supremo Bem. Arrependo-me de todo o coração e antes tivesse morrido mil vezes! Eu Vos perdi; mas o Profeta me diz que sois todo bondade e Vos deixais achar pela alma que Vos busca: Bonus est Dominus animae quarenti illum . Se no passado tenho fugido de Vós, ó, Rei de meu coração, agora Vos busco e só a Vós quero buscar. Amo- Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, com todo o afeto da minha alma. Aceitai-me e não desprezeis o amor de um coração que algum tempo Vos desprezou. Doce me facere voluntatem tuam
– “Ensinai-me a fazer a vossa vontade.” Dizei-me o que devo fazer para vos agradar; quero fazer tudo que desejardes. Meus Jesus, salvai a minha alma, pela qual destes o sangue e a vida; daí-me a graça de Vos amar sempre nesta vida e na outra. Espero tudo pelos vossos merecimentos. Confio também em vossa intercessão, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria Santíssima.
Amém.
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