LIVRO I
Considerações acerca da Vida de Maria, desde a Sua imaculada Conceição até o nascimento de Jesus.
CAPÍTULO 1
Da imitação das virtudes da SS. Virgem
“Bem-aventurados os que seguem os meus caminhos! Bem-aventurado o homem que me escuta” (Prov 8, 32-34) na voz amiga dos exemplos que lhe deixei!
Quando a Igreja selou estas palavras nos lábios de Maria, foi para nos exortar a que não só estudássemos a maneira como na terra se conduziu a rainha dos Santos, senão que imitássemos tudo o que nela é objeto de nossa admiração. Feliz quem imita Maria, pois no imitar Maria é que a Jesus se imita, como o Rei e o modelo de todas as virtudes É lição universal a Vida de Maria.
Ela nos ensina de que modo nos comportarmos, assim na prosperidade como na adversidade, na oração ou no trabalho, nas honras ou nas humilhações. Na verdade, jamais atingiremos a perfeição que Ela deu a todas as suas ações. Todavia, mais perfeito será, decerto, quem do modelo se afastar no mínimo.
Ó vós todos, que desejais servir a Maria, é de vossa vontade o conformar-vos com o modelo excelente que vos deu na Cruz o Salvador? Pesquisai na medida das vossas possibilidades a viveza de sua fé, a presteza de sua obediência, e profundeza de sua humildade, a exatidão de sua fidelidade, a pureza de suas intenções e a generosidade de seu amor!
Quem de vós, escudado no auxílio d’Aquele que não falta, não poderá imitar o modelo, praticando as diferentes virtudes que o exornam?
Privado de tal imitação, bem frágil será para com Maria o vosso amor; nem devereis contar com os sensíveis sinais de proteção.
Podereis recitar diariamente orações em honra de Maria. Mas estas, não é verdade que são sinais exteriores do vosso devotamento? Sois membros de quaisquer sociedades particularmente consagradas à Mãe de Deus?
Tudo isso poderá atrair em vosso favor as graças da salvação. Se, porém, malgrado tudo, a vossa devoção teima em não ir até a imitação de suas virtudes, não vos salvará a vossa devoção. Possuíam os filisteus a Arca do Senhor. Enriqueceram-na até com os seus presentes. Não obstante, ela não foi para eles uma fonte de benção, porque jamais quiseram trocar pelo amor de Deus o amor dos seus ídolos.
Ó Virtuosa Rainha, justo não será que, se alguém vos ama, faça por vós o que faria para os amigos que neste mundo tenha?
Não raro, sobre amigos moldam muitos o próprio caráter e deles copiam gostos e tendências. Nasce assim dessa conformidade a união entre os corações. Onde faltem semelhanças que combinem, não haverá lugar para amizades que perdurem. Tão humilde o vosso coração, tão casto, tão submisso à vontade de Deus e tão abrasado para os interesses dele, poderia um coração assim viver afetuosamente unido a um coração voluptuoso, um coração soberbo, um coração que se não resigne à vontade de Deus nem zelo tenha pela sua glória?
Por isso, no-lo dizeis com maior razão do que o Apóstolo: “Sede os meus imitadores como eu o fui de Cristo (1 Cor 4,16). Se filhos meus vós sois, revesti-vos portanto do espírito de vossa Mãe.” O espírito dos filhos de Maria há de ser, como o de sua Mãe Celestial, um espírito de caridade, de paz, de mortificação, de amor e temor de Deus!
Propósito: Doravante, ó Virgem Santa, farei consistir sobretudo a minha piedade para convosco em procurar, malmente embora, imitar as vossas virtudes. Eis a mais perfeita homenagem que vos poderei prestar. Também, Senhora, não será essa porventura a maior prova de amor que vos darei?
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