RÁDIO MENSAGEIRA DA PAZ

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

LIVRO: IMITAÇÃO DE CRISTO DE SÃO TOMÁS DE KEMPIS



CAPITULO III DO LIVRO PRIMEIRO

Dos ensinamentos da verdade

1. Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina,
não por figuras e vozes que passam, mas como em si é. Nossa
opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco
alcançam. De que serve a sutil especulação sobre questões
misteriosas e obscuras, de cuja ignorância não seremos julgados?
Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias,
entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas. Temos olhos
para não ver (Sl 113,13).
2. Que se nos dá dos gêneros e das espécies dos filósofos? Aquele a
quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões.
Desse Verbo único procedem todas as coisas e todas o proclamam
e esse é o princípio que também nos fala (Jo 8,25). Sem ele não
há entendimento nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e
tudo a ele refere e nele tudo vê, poderá ter o coração firme e
permanecer em paz com Deus. Ó Deus de verdade, fazei-me um
convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muita vez, ler e ouvir
tantas coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo.
Calem-se todos os doutores, emudeçam todas as criaturas em
vossa presença; falai-me vós só.
3. Quanto mais recolhido for cada um e mais simples de coração,
tanto mais sublimes coisas entenderá sem esforço, porque do alto
recebe a luz da inteligência. O espírito puro, singelo e constante
não se distrai no meio de múltiplas ocupações porque faz tudo para
honra de Deus, sem buscar em coisa alguma o seu próprio
interesse. Que mais te impede e perturba do que os afetos
imortificados do teu coração? O homem bom e piedoso ordena
primeiro no seu interior as obras exteriores; nem estas o arrasam aos impulsos de alguma inclinação viciosa, senão que as submete
ao arbítrio da reta razão. Que mais rude combate haverá do que
procurar vencer-se a si mesmo? E este deveria ser nosso
empenho: vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia
mais fortes e progredirmos no bem.
4. Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e
todas as nossas luzes são misturadas de sombras. O humilde
conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as
profundas pesquisas da ciência. Não é reprovável a ciência ou
qualquer outro conhecimento das coisas, pois é boa em si e
ordenada por Deus; sempre, porém, devemos preferir-lhe a boa
consciência e a vida virtuosa. Muitos, porém, estudam mais para
saber, que para bem viver; por isso erram a miúdo e pouco ou
nenhum fruto colhem.
5. Ah! Se se empregasse tanta diligência em extirpar vícios e
implantar virtudes como em ventilar questões, não haveria tantos
males e escândalos no povo, nem tanta relaxação nos claustros.
De certo, no dia do juízo não se nos perguntará o que lemos, mas
o que fizemos; nem quão bem temos falado, mas quão
honestamente temos vivido. Dize-me: onde estão agora todos
aqueles senhores e mestres que bem conheceste, quando viviam e
floresciam nas escolas? Já outros possuem suas prebendas, e
nem sei se porventura deles se lembram. Em vida pareciam valer
alguma coisa, e hoje ninguém deles fala.
6. Oh! Como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida
tenha correspondido à sua ciência; porque, destarte, terão lido e
estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do
serviço de Deus, se perdem por uma ciência vã! E porque antes
querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus
pensamentos (Rom 1,21). Verdadeiramente grande é aquele que a
seus olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras.
Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo tudo o que
é terreno, para ganhar a Cristo (Flp 3,8). E verdadeiramente sábio
aquele que faz a vontade de Deus e renuncia a própria vontade.

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