RÁDIO MENSAGEIRA DA PAZ

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis


 
LIVRO PRIMEIRO -
AVISOS ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL


CAPÍTULO 13
Como se há de resistir às tentações
1. Enquanto vivemos neste mundo, não podemos estar sem trabalhos
e tentações. Por isso lemos no livro de Jó (7,1): É um combate a
vida do homem sobre a terra. Cada qual, pois, deve estar
acautelado contra as tentações, mediante a vigilância e a oração,
para não dar azo às ilusões do demônio, que nunca dorme, mas
anda por toda parte em busca de quem possa devorar (1 Pdr 5,8) .
Ninguém há tão perfeito e santo, que não tenha, às vezes,
tentações, e não podemos ser delas totalmente isentos.
2. São, todavia, utilíssimas ao homem as tentações, posto que sejam
molestas e graves, porque nos humilham, purificam e instruem.
Todos os santos passaram por muitas tribulações e tentações, e
com elas aproveitaram; aqueles, porém, que não as puderam
suportar foram reprovados e pereceram. Não há Ordem tão santa
nem lugar tão retirado, em que não haja tentações e adversidades.
3. Nenhum homem está totalmente livre das tentações, enquanto
vive, porque em nós mesmos está a causa donde procedem: a
concupiscência em que nascemos. Mal acaba uma tentação ou
tribulação, outra sobrevém, e sempre teremos que sofrer, porque
perdemos o dom da primitiva felicidade. Muitos procuram fugir às
tentações, e outras piores encontram. Não basta a fuga para
vencê-las; é pela paciência e verdadeira humildade que nos
tornamos mais fortes que todos os nossos inimigos.
4. Pouco adianta quem somente evita as ocasiões exteriores, sem
arrancar as raízes; antes lhe voltarão mais depressa as tentações,
e se achará pior. Vencê-las-á melhor com o auxílio de Deus, a
pouco e pouco com paciência e resignação, que com importuna
violência e esforço próprio. Toma a miúdo conselho na tentação e
não sejas desabrido e áspero para
o que é tentado, trata antes de o consolar, como desejas ser consolado.
1. O princípio de todas a más tentações é a inconstância do espírito e
a pouca confiança em Deus; pois, assim como as ondas lançam de
uma parte a outra o navio sem leme, assim as tentações
combatem o homem descuidado e inconstante em seus propósitos.
O ferro é provado pelo fogo, e o justo pela tentação. Ignoramos
muitas vezes o que podemos, mas a tentação manifesta o que
somos. Todavia, devemos vigiar, principalmente no princípio da
tentação; porque mais fácil nos será vencer o inimigo, quando não
o deixarmos entrar na alma, enfrentando-o logo que bater no limiar.
Por isso disse alguém: Resiste desde o princípio, que vem tarde o
remédio, quando cresceu o mal com a muita demora (Ovídio).
Porque primeiro ocorre à mente um simples pensamento, donde
nasce a importuna imaginação, depois o deleite, o movimento; e
assim, pouco a pouco, entra de todo na alma o malvado inimigo. E
quanto mais alguém for indolente em lhe resistir, tanto mais fraco
se tornará cada dia, e mais forte o seu adversário.
2. Uns padecem maiores tentações no começo de sua conversão,
outros, no fim; outros por quase toda a vida são molestados por
elas. Alguns são tentados levemente, segundo a sabedoria da
divina Providência, que pondera as circunstâncias e o merecimento
dos homens, e tudo predispõe para a salvação de seus eleitos.
3. Por isso não devemos desesperar, quando somos tentados; mas
até, com maior fervor, pedir a Deus que se digne ajudar-nos em
toda provação, pois que, no dizer de S. Paulo, nos dará graça
suficiente na tentação para que a possamos vencer (1 Cor 10,13).
Humilhemos, portanto, nossas almas, debaixo da mão de Deus,
em qualquer tentação e tribulação porque ele há de salvar e
engrandecer os que são humildes de coração.
4. Nas tentações e adversidades se vê quanto cada um tem
aproveitado; nelas consiste o maior merecimento e se patenteia
melhor a virtude. Não é lá grande coisa ser o homem devoto e
fervoroso quando tudo lhe corre bem; mas, se no tempo da
adversidade conserva a paciência, pode-se esperar grande
progresso. Alguns há que vencem as grandes tentações e, nas
pequenas, caem freqüentemente, para que, humilhados, não
presumam de si grandes coisas, visto que com tão pequenas
sucumbem.

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