RÁDIO MENSAGEIRA DA PAZ

sábado, 3 de setembro de 2011

SOBERBA E HUMILDADE



A soberba encabeça a lista dos pecados capitais; e, sem dúvida é o pior de todos. É o que levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus, e levou Adão e Eva à desobediência mortal para toda a humanidade.

“As doenças espirituais que atacam aqueles que já estão caminhando com Cristo é a vaidade e a soberba. A pessoa que diz que não é vaidoso já está sendo. Porque nós não nos conformamos com aquilo que somos. Um filho sempre se sente o mais amado ou o mais desprezado, isso para não ser simplesmente igual aos outros.

Como disse Paulo: “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”; é assim que nós precisamos pensar, porque se você faz jejum, se orgulha por isso e até se você come um pouco pra ser prudente, já alimenta a vaidade de novo. Portanto nós precisamos saber que não somos nós que rezamos, que jejuamos, mas é o Cristo em nós.

“Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gl.2,20)

Não podemos dizer que o homossexualismo não é pecado. Nós pecamos, mas o diferencial é nossa fé, então meus irmãos lutem, não caiam nas armadilhas de satanás que é a vaidade, ele quer ser o máximo. Já a grandeza da virgem Maria é que nela tudo é graça.

O soberbo é aquele que se acha melhor do que os outros. Eu não posso olhar para o outro vendo ele inferior a mim, isso é soberba e ela é uma desgraça.

Coragem! Pegue a sua cruz e caminhe para ressurreição!”

Padre Paulo Ricardo

Alguém disse que o orgulho é tão enraizado em nós, por causa do pecado original, que ´só morre meia hora depois do dono´.

Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Jesus, ´manso e humilde de coração´ (Mt 11,29), e também marcou a vida de Maria, ´a serva do Senhor´ (Lc 1, 38), José, e todos os santos da Igreja.

São Vicente de Paulo ensinava seus filhos que o demônio não pode nada contra uma alma humilde, uma vez que sendo ele soberbo, não sabe se defender contra a humildade. Por isso, com esta arma ele foi vencido por Jesus, Maria, José, S. Miguel e os santos.

A soberba consiste na pessoa sentir´se como se fosse a ´fonte´ dos seus próprios bens materiais e espirituais.

Acha-se cheia de si mesma, pensa, tristemente, que é a própria autora daquilo que tem ou que faz de bom, e se esquece de que tudo vem de Deus e é dom do alto, como disse São Tiago:

Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes´ (Tg 1,17).

O soberbo se esquece que é uma simples criatura, que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, Dele depende em tudo. Como disse Santa Catarina de Sena, ele ´rouba a glória de Deus´, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Deus, já que Ele é o autor de toda graça.

São Paulo lembra aos coríntios que: ´nossa capacidade vem de Deus´. (2 Cor 3,5)

Aos romanos ele disse:

´Não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto.´ (Rm 12,3)

´Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai´vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos.´ (Rm 12,16)

Aos gálatas, Paulo diz:

´Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana´se a si mesmo.´ (Gl 6, 3)

A soberba tem muitos filhos: orgulho, vaidade, vanglória, arrogância, prepotência, presunção, auto´suficiência, amor próprio, exibicionismo, egocentrismo, egolatria, etc.

O soberbo é orgulhoso, isto é, tem um conceito elevado de si mesmo, mais do que dos outros. Acha´se superior aos demais.

O orgulho normalmente é ligado à vaidade, que faz a pessoa chamar sobre si, de maneira incontrolada, a admiração dos demais e as homenagens, quase sempre vazias, ilusórias e instáveis. Tais pessoas gostam de aparecer, se exibir, amam os aplausos e as bajulações.

A soberba deixa a pessoa também cheia de presunção; isto é, pensa que sabe tudo, acha que domina qualquer assunto, mesmo aqueles dos quais muitas vezes não tem o menor conhecimento. Não deixa jamais de dar o seu palpite.

Podemos dizer que a soberba é a ´cultura do ego´. Você já reparou quantas vezes por dia dizemos a palavra eu? Eu vou, eu acho, eu penso que…, mas eu prefiro…, etc.. Na verdade somos presos no nosso eu como por uma força magnética a nos atrair sempre para ele. A luta do cristão é para que essa ´força´ puxe´o para Deus, e não para o ego. Jesus, nosso Modelo, disse:

´Não busco a minha glória´. (Jo 8,50)

São Paulo insistia no mesmo ponto:

´É porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar os homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Deus.´ (Gl 1,10)

A soberba é o oposto da humildade. Essa palavra vem de ´humus´, aquilo que se acha na terra, pó. O humilde, é aquele que reconhece o seu ´nada´, a sua contingência, embora seja a mais bela obra de Deus sobre a terra, a sua glória, como dizia santo Ireneu, já no século II.

Foi a soberba que perdeu a humanidade, foi a humildade que a salvou. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, no século V, garante que:

´Toda a vitória do Salvador dominando o demônio e o mundo, foi iniciada na humildade e consumada na humildade!´

Adão e Eva, sendo criaturas, quiseram ´ser como deuses´ (Gen 3,5); Jesus, sendo Deus, fez´se como a criatura. Da manjedoura à cruz do Calvário, toda a vida de Jesus foi vivida na humildade e na humilhação. São Paulo resume isso na carta aos filipenses:

´Sendo Ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou´se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando´se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou´se ainda mais, tornando´se obediente até a morte, e morte de cruz´ (Fil 2,6´8).

Pela humildade e pela humilhação Jesus se tornou o ´novo Adão´ e salvou o mundo (Rom 5,12s). Maria, a mãe do Senhor, tornou´se a ´nova Eva´, ensina a Igreja, porque na sua humildade destruiu os laços da soberba da primeira virgem.

Esta é a razão pela qual a humildade é a virtude preferida de todos os santos; pois ninguém se santifica sem ela.

Muitos cristãos são cheios de boas virtudes, mas infelizmente tornam´se ´inchados´, pensando infantilmente que essas boas virtudes são méritos próprios e não graças de Deus, para serviço dos outros. Deus disse a Santa Catarina que: ´o pecador, qual ladrão, rouba´Me a honra, para atribuí´la a si mesmo´.(Diálogos)

São Paulo pergunta aos corintios:

´O que há de superior em ti? Que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se o não tivesses recebido ?´ (1 Cor 4,7).

Não podemos nos gloriar de nada; tudo o que fazemos de bom, é por graça de Deus que o fazemos. De modo especial, é muito perigoso se gloriar das boas obras espirituais que realizamos. É preciso se lembrar sempre de que se eu sei pregar bem, ou cantar bem, ou coordenar bem, etc., tudo isto é dom de Deus, e eu não posso ´roubar a sua glória´ atribuindo´a a mim.

São Paulo exortava os cristãos a não buscarem a glória dos homens, que é efêmera, perdendo assim a glória de Deus que é eterna.

O salmista rezava do fundo da alma:

´Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso Nome dai glória´ .(Sl 113, 9)

Como ninguém, o Apóstolo sentia em si as misérias humanas, convivendo com as riquezas da graça de Deus. Ele disse aos coríntios:

´Temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós´ (2 Cor 4,7).

Cada cristão é como um precioso vaso de barro; traz em si o precioso tesouro da graça, mas pode quebrar facilmente. Deus nos fez tão frágeis assim, para que a cada momento tenhamos a certeza de que ´este poder extraordinário provém de Deus e não de nós´. Ainda assim, muitos ainda se enchem de orgulho…

Muitas vezes Jesus falou da humildade para os discípulos:

´Quando fores convidados às bodas, não te assentes no primeiro lugar,… mas quando fores convidado vai tomar o último lugar.´ (Lc 14,8)

É de Santo Agostinho a expressão:

´Eis a grande ciência do cristão: conhecer que nada é e nada pode´.

É interessante notar que Jesus ensina´nos a dizer, depois de ter feito tudo o que foi ordenado:

´Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer´.(Lc 17,10)

A nota de rodapé, da Bíblia de Jerusalém, afirma que, embora o termo ´inúteis´, pareça inadequado, por enfatizar a situação de servo, no entanto, é a tradição literal e (tradicional).

O que o Senhor quer nos ensinar, é que sem Ele, sem a Sua graça, somos inúteis; mais ou menos o que disse em Jo15,5: ´sem Mim nada podeis´.

De nada vale um belo computador se não houver quem o programe e opere; de nada vale uma colher de pedreiro sem uma mão hábil a manejá´la. Seriam inúteis. Creio que seja isto mesmo que o Senhor quis nos ensinar; isto é, tudo o que fazemos de bom, é por graça e bondade Sua.

Não nos consideremos sermos úteis, por nós mesmos.

Ser humilde é ser santo, é saber descer do pedestal, é não se auto´adorar, é preferir fazer a vontade dos outros do que a própria, é ser silencioso, discreto, escondido, é fugir das pompas e dos aplausos.

São João Batista foi modelo de humildade e nos ensinou a sua essência. Ao falar de Jesus, ele disse:

´Importa que Ele cresça e que eu diminua!´ (Jo 3,30).

Isto diz tudo. Quando Jesus iniciou a sua vida pública, João o apresentou para o povo: ´eis o Cordeiro de Deus´, e desapareceu… até ser martirizado no cárcere de Herodes. Que lição de humildade!

Da mesma forma São José, escolhido por Deus entre todos os varões do seu tempo, para ser o pai legal do Senhor (Lc 2,48), fez´se o servo humilde, obediente, escondido e vazio de si mesmo. E assim como S. José, todos os santos foram modelos de humildade.

Há uma frase que aparece pelo menos três vezes na Bíblia: em Provérbios 3,34; em Tiago 4,6 e em 1 Pedro 5,5 , que diz:

´Deus resiste aos soberbos mas dá a sua graça aos humildes´.

É uma palavra muito forte essa: ´resiste aos soberbos´; quer dizer, o soberbo nada consegue de Deus, porque está cheio de si mesmo, se auto´adora, não tem espaço no coração para Deus e para os outros. Diz Santo Afonso que:

´Quanto mais uma pessoa se acha indigna de graças, mais Deus a enriquece delas´.

Não é por acaso que São Pedro manda:

´Humilhai´vos sob a poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno´ (1 Pe 5,6).

Em seguida ele então recomenda:

´Confiai´lhe todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós´ (5,7).

Aquele que se humilha diante de Deus, isto é, reconhece o seu ´nada´, de criatura, diante do Criador, esse pode, confiantemente, ´confiar´lhe todas as preocupações´ e estar certo de que o Senhor vai se encarregar de todas elas.

Santa Teresa diz que: ´Por meio da humildade o Senhor se deixa render a tudo quanto dele queremos´.

A oração do cristão deve ter sempre essas três características: fervorosa, humilde e perseverante.

Jesus nos falou muito sobre a importância da humildade. Contou a parábola do fariseu soberbo e do publicano humilde (Mt18,9´14); termina dizendo:

´Digo´vos: este [o publicano] voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado´.

Os santos foram exaltados, levados aos altares, porque se humilharam. Jesus sentou´se à direita do Pai, como homem, não apenas como Deus, porque humilhou´se como ninguém na terra. ´Por isso, diz São Paulo, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes ´ (Fil 2,9).

Nossa Senhora foi a mais exaltada entre todas as criaturas, porque foi a que mais se humilhou. Só ela pôde cantar: ´Doravante todas as gerações me proclamarão bem aventurada´ (Lc 1,48); porque, sendo ´Mãe de Deus´, fez´se ´escrava do Senhor´. (Lc 1,38)

Os santos ensinam que foi a perfeita humildade de Nossa Senhora que fez com que Deus a escolhesse para a mãe do seu Filho, eleita entre todas as mulheres. E tanto é verdade que Ela mesma canta no Magnificat: ´Ele olhou para sua humilde serva´ (Lc1,48).

Deus ´olha´ para os humildes!…

Quando os discípulos perguntaram: ´Quem é o maior no Reino dos céus ?´, Jesus chamou uma criancinha, colocou´a no meio deles e disse:

´Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus´ (Mt 18, 3´4).

De outra forma Jesus já tinha ensinado no Sermão da Montanha:

´Bem´aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus´ (Mt 5,1).

Esta é a primeira das Bem´aventuranças, aquela que abre as portas do Reino dos céus. Os ´pobres de espírito´ são os humildes.

O livro dos Provérbios diz que ´com os humildes está a sabedoria´ (Pr 11,2), ´com aqueles que se deixam aconselhar´ (13,10).

Jó nos ensina que:

´Ela abaixa o orgulho dos soberbos e salva o homem de olhar humilde´ (Jó 22,29).

Também Maria cantou que ´Ele depôs os poderosos de seus tronos e a humildes exaltou´ (Lc 1,52).

Quando a mãe de S. João e S. Tiago, pediu ao Senhor que os seus dois filhos se assentassem ao seu lado no Reino, o Senhor lhes disse:

´Aquele que quiser tornar´se grande entre vós seja aquele que serve e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja vosso servo´ (Mt 20,27).

E é interessante notar que Jesus se apresenta a eles como o exemplo:

´Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos´ (20,28).

Até que na última Ceia Ele lhes dá o exemplo maior de humildade: lava os pés deles. Aquilo que era o serviço do servo, Ele o faz, para ensiná´los de maneira viva, e lhes pergunta:

´Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar´vos os pés uns aos outros. Dei´vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais´ (Jo 13, 12´16).

E por fim acrescenta:

´Se compreenderdes isso e o praticardes, sereis felizes´(13,17).

Que lição!

Santa Teresinha de Jesus, doutora da Igreja, muito sábia, dizia assim: “eu quero o último lugar… sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele”.

Mas como é difícil lavar os pés dos irmãos! Como é difícil aceitar o último lugar! Como é difícil pedir perdão! Como é difícil aceitar ser rejeitado, ser preterido, ser esquecido, ser caluniado, ser ridicularizado, escarnecido, injuriado… Só mesmo com o auxílio da graça de Deus. Jesus exclamou um dia:

´Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas dos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos´ (Mt 11,25).

Santa Teresa D’Ávila dizia que ´enquanto vivemos nesta terra não há coisa que mais importa para nós do que a humildade´ (Moradas, cap. 2,9).

Na prática, ser humilde, é aceitar morrer para si mesmo. É como aquele grão de trigo que Jesus disse que se não cair na terra e não morrer, permanecerá só, e não dará fruto (Jo 12,14).

Ser humilde é nunca ´contar consigo mesmo´, mas contar sempre com Deus. Jesus foi claríssimo: ´Sem Mim nada podeis fazer´ (Jo 15,17).

Ser humilde é não viver para si, mas viver para Deus e para os outros.

´Quem ama sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá´la´á para a vida eterna´ (Jo 12,15).

Quem deseja ser humilde de verdade, e não apenas como os fariseus, que Jesus chamou de ´sepulcros caiados´ (Mt 23,5), porque só faziam as coisas para aparecer, deve então, como os santos: preferir que os outros cresçam na opinião do mundo, enquanto ele diminua; que os outros sejam louvados e ele esquecido; que os outros sejam honrados, e ele desprezado.

Deus tem um grande desígnio atrás da humildade; como São Paulo disse aos coríntios:

´O que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus´ (1 Cor 1,26´31).

E o Apóstolo completa:

´Aquele que se gloria, se glorie no Senhor´.

É a humildade que forma uma comunidade cristã sólida no amor. S. Pedro tem uma bela expressão:

´Revesti´vos todos de humildade em vossas relações mútuas´ (1 Pe 5,5).

Todas as rixas e rivalidades de nossas comunidades cairão por terra quando cada um de nós for verdadeiramente humilde. Onde está presente a verdadeira humildade, não há lugar para a competição e a disputa; por isso, precisamos vestir o manto da humildade.

Quando São Paulo faz aos efésios um apelo para que vivam a unidade querida por Jesus, ele lhes diz:

´Exorto´vos pois (…) a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando´vos uns aos outros com amor ´.(Ef 4,1´3)

Não há comunidade unida e forte se cada um dos seus membros não for ´revestido de humildade´. E para isso, é preciso dar combate à vontade própria. Santo Afonso de Ligório dizia que:

´A vontade própria é a ruína das virtudes, a fonte de todos os males, a única porta do pecado, e da imperfeição, arma favorita do tentador contra os religiosos, o carrasco de seus escravos, um inferno antecipado´.

E ainda: ´Vale mais um ato de humildade do que a conquista de todas as riquezas do mundo´.

Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, insistia na necessidade do auto conhecimento para que a pessoa se torne humilde e tenha discernimento. Deus lhe disse:

´Ao desceres o vale da humildade, reconhecer´Me´ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo aquilo de que necessitais´.

´A cela do autoconhecimento é o lugar onde se adquire a perfeição´. E ensinava que: ´O diabo orgulhoso não tolera um espírito humilde´.

No livro da ´Imitação de Cristo´, Tomás de Kempis diz que o verdadeiro humilde é aquele que reconhece o seu nada e se alegra nas humilhações.

Aqueles que se irritam quando são desprezados, ainda não são perfeitos na humildade. Tudo o que nos leva a reconhecer o nosso nada deve alegrar´nos; por isso os santos se alegravam ao serem desprezados na terra.

São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que ´suportar os desprezos é pedra de toque da humildade e da verdadeira virtude´.

E ainda: ´Muitas pessoas consentem em se humilhar, mas não querem ser humilhadas´.

A humildade se prova na hora da humilhação. Se nos perturbamos com uma palavra de crítica, com uma injúria ou com algum desprezo, isto é mostra de que ainda não morremos para nós e para o mundo e que ainda não somos humildes.

O humilde é manso, o soberbo é agressivo. O orgulhoso é sempre raivoso e vingativo, pois julga´se ´o bom´ e merecedor de toda honra.

Podemos examinar a nossa humildade diante de certas situações:

. quando as pessoas dão ouvido ao que dizem os outros e desprezam as nossas palavras;

. quando os outros pedem e recebem, mas pedimos e nos é negado;

. quando os outros são elogiados e nós esquecidos;

. quando os outros são chamados para trabalhos importantes, mas nós não somos achados bons para tal; e assim por diante…

Conforme for a nossa reação nesses momentos, podemos medir o grau da nossa soberba ou humildade.

Santa Joana de Chantal dizia que:

´Quem é verdadeiramente humilde, vendo´se humilhado, mais se humilha´.

Os santos ensinam que devemos exercitar a humildade principalmente nos momentos em que somos repreendidos por alguém. A reação natural é o azedume, a irritação, a justificação do erro a qualquer custo, a revolta, maledicência, etc. O humilde cala´se e arrepende´se da falta que fez; não fica magoado e não se revolta com quem o corrigiu. Ao contrário, é grato com aquele que lhe fez ver o erro.

São Felipe de Neri chegava a dizer que:
Quem quer ficar verdadeiramente santo nunca deve se desculpar, nem que seja falso o que lhe atribuem´.
Santo Afonso de Ligório diz que a única exceção deve acontecer quando é necessário defender´se para evitar um escândalo.
Santa Teresa dizia que ´uma pessoa caminha mais para Deus quando deixa de desculpar´se do que ouvindo dez sermões´.
E diz a razão disso: ´Não se desculpando, começa a adquirir a liberdade interior e a não se preocupar se dizem dele bem ou mal.
A extrema humildade de vários santos os levavam a se sentirem os piores pecadores, por incrível que nos pareça. Santa Teresa ensinava às suas monjas dizendo:
Não acrediteis ter progredido na perfeição, se não vos julgardes piores de todas e se não desejais ser tratadas como as últimas.

Os santos preferiam que todos conhecessem os seus defeitos e os tivessem como pobres pecadores, como eles mesmos se achavam.

O humilde não se desespera e nem desanima, duas maneiras que o tentador emprega para perturbar a nossa alma. O soberbo confia nas próprias forças e por isso cai. O humilde não cái porque confia só em Deus. E, se cai, aceita a queda, e ajudado por Deus, logo se levanta.

Aquele que é humilde não louva´se a si mesmo e não se preocupa com o que os outros pensam e dizem de si. Não se preocupa com a sua ´boa reputação´ e fama.

Santo Agostinho escreveu que:

´O elogio do adulador não cura a má consciência, nem as injúrias de quem ofende ferem a boa consciência´.

Santo Afonso pergunta: ´Que adianta ser estimado pelas pessoas desse mundo, se diante de Deus somos nada?´

A maneira mais segura de fazer morrer a ´própria estima´ é viver no escondimento, ensinam os santos.

Também o desejo de dominar os outros, de mandar, é sintoma grave de soberba. Santa Teresa preferia que o seu mosteiro fosse ´queimado pelas chamas antes de entrar nele essa maldita ambição.´

Santo Afonso diz que a única ambição de quem quer ser santo deve ser a de superar todos os outros na humildade.

A soberba é uma erva daninha que tem mil raízes dentro de nós. Torna´se difícil muitas vezes combatê´las porque elas tomam uma aparência de boa ação, quando na verdade, são más. Um forte exemplo disso é o que acontece com muitas pessoas que, uma vez tendo cometido um erro, um pecado, não se conformam e não se perdoam, e ficam como que pisando a própria alma num remorso sem fim. É um caso típico de orgulho escondido.

Não se perdoar é não aceitar a própria miséria e limitações, é orgulho refinado. Esta atitude leva a pessoa a não confiar na misericórdia de Deus, o que a conduz ao desânimo ou desespero, duas armas muito usadas pelo tentador para nos perturbar a alma e afastar de Deus.

Santo Agostinho ensina:

´Se a tristeza se apoderar de nós por um erro ou pecado nosso, lembremo´nos de que um coração esmagado pela dor é um sacrifício digno de Deus´.

São Francisco de Sales, ensinava como tratar os próprios erros:

´Considerai vossos defeitos com mais dó que indignação, com mais humildade que severidade e conservai o coração cheio de um amor brando, sossegado e terno´. E ainda dizia: ´É orgulho não nos conformarmos com a nossa fraqueza e a nossa miséria.

Não adianta irritar´se consigo mesmo e condenar´se após um pecado. Isto seria um mal maior. O remédio é levantar´se humildemente, aceitar com resignação a própria falta e ir buscar o perdão junto à misericórdia infinita de Deus que nunca nos falta.

O mesmo S. Francisco de Sales ensinava que: ´Quanto mais nos sentirmos miseráveis, tanto mais devemos confiar na misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e a miséria, há uma ligação tão grande que uma não pode se exercer sem a outra´.

Deus disse a Santa Catarina: ´Por falta de confiança na minha misericórdia, corre´se o risco de cair no desespero, um dos enganos a que o demônio pode conduzir meus servidores´.

Deus muitas vezes permite as nossas quedas para nos tornar humildes. É pelas nossas próprias faltas que conhecemos a nossa miséria e passamos a confiar só em Deus. É o que levava S. Teresa a dizer às suas filhas: ´Jamais cometamos o desatino de confiar em nós mesmos´.

Cada tropeço é uma grande ocasião que temos para aprender a sermos humildes.

Enfim, a humildade é a grande força daquele que quer a santidade. Santa Teresa o disse:

´Quem possui as virtudes da humildade e do desapego bem pode lutar contra todo o inferno junto e o mundo inteiro com suas seduções´.

Essas duas virtudes, diz a Santa, tem a propriedade de se esconderem de quem as possui, de maneira que nunca as vê, nem se persuade de as ter, mesmo que lho digam. O grande místico doutor, S. João da Cruz, disse que:

´Visões, revelações, sentimentos celestes e tudo quanto se pode imaginar de mais elevado, não valem tanto quanto o menor ato de humildade´.

Conquistar a santidade é conquistar a humildade!

Para livrar S. Paulo do perigo da vaidade, ele mesmo afirma que Deus lhe deu ´um espinho na carne´. O Apóstolo teve visões celestes, e isto podia levar´lhe ao orgulho; então Jesus deu´lhe aquele espinho, que não sabemos que tipo de sofrimento era. Ouçamos o Apóstolo:

´Conheço um homem em Cristo que há quatorze anos foi arrebatado até o terceiro céu… foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir´. (2Cor 12,2´4)

´Para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade´.

Paulo pede ao Senhor, por três vezes, que o livre daquele espinho, mas o Senhor diz não; para que o grande Apóstolo não fosse sucumbido pelo orgulho. Ele próprio o diz.

Até as perturbações de Satanás Deus sabe usar em nosso proveito; assim, Ele permitiu esse tormento para livrar Paulo do pecado.

E nesta luta gloriosa, o Apóstolo aprendeu a grande lição:

´Basta´te a minha graça, pois é na fraqueza que se revela totalmente a minha força.´

A partir desta lição, o Apóstolo preferia gloriar´se das suas fraquezas, e não dos seus sucessos:

´Portanto, prefiro gloriar´me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo… porque quando me sinto fraco, então é que sou forte.´ (2Cor 12, 7´10) Se o grande Apóstolo e mártir precisou desta proteção de Deus, através do sofrimento na carne, para se ver protegido do ´perigo da vaidade´, quanto mais nós precisamos destes sagrados ´espinhos´ para nos protegerem do orgulho.

Que Deus seja louvado por tudo o que acontece conosco. Já dizia o Eclesiástico:

´Aceita tudo o que te acontecer; na dor permanece firme; na humilhação tem paciência.
Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata; e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação´. (Eclo 2,4)
 

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